8 mulheres, 1 semana a caminharem diariamente uma média de 20km.
Objetivo: Chegar a Santiago de Compostela, a 113 km de distância.
O objetivo é claro, o caminho nem tanto.
E é esta a magia do Caminho: saber muito pouco sobre o como chegar lá. Na verdade, sabe-se o básico, a logística, porque o essencial, aquele que é invisível aos olhos, vai aparecendo à nossa frente a cada passo. Pode surgir de mansinho ou de repente, mais depressa ou mais devagar, não há previsões. Ou, como alguém disse um dia, “prognósticos só no fim do jogo”.
É assim o Caminho de Santiago. É assim o caminho da vida, se nos permitimos viver desta forma…
Aceitar o fluir, abrirmo-nos à surpresa, surpreendermo-nos, espantarmo-nos, como uma criança que está a descobrir o mundo pela primeira vez.
Tudo era “já ali”, o que significava na verdade muito pouco, pois poderia ser a 1km ou a 15km de distância, a 5 minutos ou a 5 horas. Não interessava…
Não há horas marcadas, não há obrigações, apenas caminhar, nutrir o corpo para que ele responda ao desafio físico, e abrir-se à experiência.
E que experiência! Pessoas do mundo inteiro, de raças e credos diferentes, com um denominador comum: procuram conexão – interna, com a natureza e com os outros.
E, quando num espaço e tempo se cruzam pessoas despojadas de pesos e focadas no caminho que estão a fazer e em toda essa vivência, essa conexão transcende o “normal” e acontece magia. A fé, o amor, a energia que se sente em cada célula e que sabemos e sentimos fica gravada para a vida!
8 mulheres, 1 semana a caminharem diariamente uma média de 20km podia ser um peso, muitos pesos (emocionais, diga-se) a sobrecarregarem umas e outras. Podiam ter intenções muito diferentes ao fazerem o Caminho, expectativas irreais ou apegos muito fortes. Mas não. Apesar de todas tão diferentes, complementavam-se e o espírito de grupo surgiu naturalmente desde o primeiro dia.
O melhor do ser humano: o humor, a cumplicidade, o amor, o respeito, o suporte, a fé esteve lá, e o mais bonito é que ficou gravado em cada uma de nós para sempre, e isso nenhum caminho irá apagar.
Depois de vários caminhos já feitos, a certeza de que cada um nos trás a vida numa espécie de bolha ou balão de ensaio. Está ali para testarmos tanto de nós, sem distrações: observar, acolher, escolher aceitar ou deixar ir.
Quantas oportunidades na vida temos de sair do nosso ambiente e rotina diária apenas para nos observarmos e desafiarmos? É uma escolha criar essas oportunidades, mas a verdade é que na vida acelerada que se leva, esquece-se do quão importante é viver estes momentos que são catalisadores de tanto, do tanto que desejamos para a nossa vida.
Venho muito mais feliz de cada caminho, porque venho mais alinhada comigo e com tudo o que me rodeia. E este Caminho foi ainda mais especial (nota-se muito?!).
Tenho o coração a transbordar de amor, gratidão e mais pessoas genuínas e maravilhosas na minha vida!